A ''Grande Missa em Dó menor'' de Wolfgang Amadeus Mozart, é uma das suas criações mais ambiciosas no domínio da música sacra. Escrita entre 1782 e 1783, a obra permanece inacabada e envolta em mistério, tanto em relação às razões que levaram o compositor a interrompê-la quanto às circunstâncias exatas da sua primeira apresentação. Ainda assim, a sua grandiosidade e intensidade expressiva fazem dela uma das composições mais admiradas do repertório sacro clássico.
Acredita-se que Mozart tenha começado a compor esta missa como forma de ''promessa ou agradecimento'', possivelmente em consequência do seu casamento com Constanze Weber. A própria Constanze terá cantado a parte de soprano numa das primeiras execuções conhecidas da obra, o que reforça a teoria de que a composição tinha um significado pessoal e espiritual para o compositor.
Em 2025, esta obra monumental voltou a ganhar vida numa série de concertos realizados em quatro localidades do norte de Portugal: Porto, Gondomar, Santa Maria da Feira e Ribeirão. Estes concertos proporcionaram ao público uma rara oportunidade de ouvir ao vivo uma das obras sacras mais sublimes de Mozart.
O elenco de solistas foi composto por intérpretes de reconhecido mérito: Carla Caramujo (soprano I), Alexandra Quinta e Costa (soprano II), Marco Alves dos Santos (tenor) e Tiago Matos (baixo). A prestação vocal foi complementada pelo Coro Polifónico da Lapa, que garantiu uma interpretação emocionante da complexa parte coral. O Mestre Capela da Igreja da Lapa e diretor do Coro, Filipe Veríssimo, assegurou a execussão do órgão, com a mestria que lhe é reconhecida.
A parte orquestral esteve a cargo da Orquestra Filarmónica Portuguesa, uma das mais prestigiadas do país, sob a direção do maestro Osvaldo Ferreira, que conduziu a obra com rigor e sensibilidade, respeitando o equilíbrio entre o dramatismo barroco e a transparência clássica que caracterizam esta missa.
Estes concertos não só fizeram ressurgir uma das joias do repertório clássico, como também reforçaram o papel das instituições musicais portuguesas na divulgação e valorização do património musical universal. A combinação entre a riqueza da obra e a qualidade dos intérpretes resultou numa experiência artística e espiritual memorável.
A ''Grande Missa em Dó menor'' de Mozart continua, mais de dois séculos depois, a emocionar plateias e a inspirar músicos, provando que mesmo o que fica por terminar pode atingir a plenitude da beleza.
José Seabra
Foto de Capa: Gabinete de Comunicação da Santa Casa da Misericórdia do Porto






















